quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Advogado de iraniana foge para a Turquia e pede asilo

“Se Lula está de fato comprometido com os direitos humanos e com esse caso, deveria oferecer asilo a Mostafaei. Com isso, mostraria que não estava blefando”, disse ao Estado a ativista Mina Ahadi, que lidera uma campanha internacional contra a pena de morte e apedrejamento de mulheres no Irã.

E deu no o Estadão: Um dos advogados da iraniana Sakineh Ashtiani foi detido ontem pelo serviço turco de imigração, ao cruzar a fronteira do Irã com a Turquia. Mohammad Mostafaei foi obrigado a fugir de Teerã há cinco dias, depois que sua família foi presa.
As Nações Unidas confirmaram que Mostafaei apresentou um pedido formal de asilo às autoridades turcas, o que abre a possibilidade de a ONU buscar um terceiro país para o qual ele seria levado em caráter definitivo.
Grupos de defesa de Sakineh Ashtiani, condenada à morte no Irã, pedem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que receba o advogado. “Se Lula está de fato comprometido com os direitos humanos e com esse caso, deveria oferecer asilo a Mostafaei. Com isso, mostraria que não estava blefando”, disse ao Estado a ativista Mina Ahadi, que lidera uma campanha internacional contra a pena de morte e apedrejamento de mulheres no Irã.
“Pedimos ao governo brasileiro que tome uma iniciativa concreta nesse caso, como uma prova de que não estava apenas usando o caso de Ashtiani para ganhar votos internamente”, disse a ativista.
Confirmação. Ontem (03/08/2010), a Corte de Teerã realizou a última audiência sobre o caso da iraniana, na qual a condenação à morte foi confirmada. O tribunal ainda definirá se ela será enforcada, sentença para assassinato, ou apedrejada, tipo de execução destinado às adúlteras pela Justiça iraniana.
Ativistas da Anistia Internacional denunciam a perseguição ao advogado - conhecido por sua luta pelos direitos humanos - como uma tentativa de “intimidação de promotores dos direitos básicos”.
A ONG londrina de direitos humanos Human Rights Watch considerou o incidente um “assédio” promovido pelo governo iraniano. Segundo a organização, Teerã teria a intenção de enfraquecer a atuação de defensores de direitos humanos como Mostafaei dentro do território iraniano.
Abrigo. Ainda ontem, as Nações Unidas deram início a uma série de consultas a seus Estados-membros para saber da disposição dos governos para receber Mostafaei.
“Estamos monitorando o caso bem de perto”, disse Metin Corabatir, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) na Turquia. Conforme a agência de notícias Associated Press, iranianos não precisam de visto para entrar na Turquia e Mostafaei teria sido detido por “problemas no passaporte”.
“Todos os canais estão abertos para que Mostafaei possa se candidatar a receber refúgio no exterior”, declarou Corabatir à agência de notícias Associated Press, em Ancara, capital da Turquia.
A Noruega foi uma das nações que mostrou disposição para receber o defensor dos direitos humanos. Outros países europeus se manifestaram preocupados com a situação do advogado e pediram à ONU uma solução rápida para o caso.
Na segunda-feira, o sogro e o cunhado de Mostafaei foram libertados da prisão onde eram mantidos em Teerã. A mulher do advogado continua detida pelos órgãos de segurança do governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad. Há quatro dias, a filha do casal comemorou seu sétimo aniversário, sem os pais.
Para lembrar
Antes de chegar à Turquia, o advogado Mohammad Mostafaei esteve desaparecido desde o dia 23, depois de ter sido interrogado por autoridades iranianas no presídio de Evin, em Teerã, de acordo com a ONG Anistia Internacional. Além de defender a iraniana Sakineh Ashtiani, ele mantinha um blog na internet no qual pedia o fim da prática do apedrejamento. O advogado defendeu outras 13 pessoas condenadas à morte por apedrejamento no Irã, das quais 10 estão em liberdade, e ofereceu-se voluntariamente para cuidar do caso de Sakineh.

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